Com o tema “A Soja no Estado do Pará”, ocorreu na última sexta-feira (23) o 2º “Café com Negócios”. O evento, que acontece trimestralmente, é uma iniciativa da ACIM – Associação Comercial e Industrial de Marabá – e tem como objetivo o conhecimento de experiências que deram certo em outras praças do Estado e do País, quando se trata de atração de novos investimentos ou de saídas para o desenvolvimento. São palestras em forma de bate-papo descontraído onde acontece a interação entre os visitantes e empresários locais, ora absorvendo conhecimento, ora trocando ideias sobre negócios bem sucedidos.
Os convidados desta segunda edição foram: o presidente da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado do Pará), Vanderlei Silva Ataídes, também diretor da Aprosoja Brasil e produtor rural há mais de 20 anos no Estado; e Daniel Luiz Leal Mangas, administrador especialista em Agronegócio e funcionário da Embrapa desde 1986, onde é supervisor do Núcleo de Apoio a Pesquisa e Transferência de Tecnologias (Napt) Sudeste do Pará.
O começo
Daniel Mangas abriu o bate-papo fazendo uma retrospectiva da soja no Brasil, onde o grão começou a despertar o interesse dos produtores em meados da década de 1960, que passaram a enxergá-lo, assim como o governo, como um produto altamente comercial. Desse modo, em 1966 a produção nacional era de 500 mil toneladas.
Hoje, após anos de pesquisa e da expansão do plantio, o Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja, atrás apenas dos EUA. Na safra 2015/2016, a cultura ocupou uma área de 33,17 milhões de hectares, o que totalizou uma produção de 95,63 milhões de toneladas. A produtividade média da soja brasileira foi de 2.882 kg por hectare.
Mangas também fez explanações técnicas sobre os cultivares de soja, discorreu acerca de dados econômicos, sistemas de produção e falou também de produtividade.
Sem mais ciclos
Para ele, a região é muito promissora em relação ao plantio de grãos, haja vista que dois produtores já trabalham experimentalmente com soja, um deles há quatro anos e o plantio tem avançado. “Estamos cansados dos grandes ciclos, já tivemos o da borracha, castanha, diamantes, madeira, ouro e minério. Já, a agricultura não tem ciclo, basta que se desenvolva pesquisa”, opina Daniel Mangas.
Ele lembra que a Embrapa, entre as décadas de 1970 e 1980, conseguiu produzir soja no cerrado, onde estão hoje os maiores índices de produtividade, concentrados do Triângulo Mineiro, Maranhão, Tocantins, Piauí, Bahia, norte de Goiás e Mato Grosso. “Só aí já se produz mais de 60% da soja exportada do Brasil”, observa Daniel Mangas.
Vanderlei Ataídes, presidente da Aprosoja, que há 20 anos está em Paragominas, detalhou todos os estágios, da escolha da semente à colheita da soja, aos empresários, que acompanharam com bastante interesse as explicações.
Evolução
Falou de valores de frete, alternativas de financiamento, tipos de solo, correção de solo, entressafra, silagem, maquinário, preços no mercado nacional e internacional, exportação, lucro líquido e logística, entre outros assuntos.
Classificou como muito importante a iniciativa da Associação Comercial, de trazer informação a toda a sociedade e à classe produtiva. “Isso é muito importante para divulgar a atividade agrícola seja dentro ou fora do Estado do Pará”, observou.
“Tem 20 anos que eu cheguei a Paragominas, posso dizer que o pontapé inicial no plantio da soja foi dado mesmo há duas décadas. Temos evoluído bastante, com um crescimento, dependendo do ano, de 10% a 15% da atividade no nosso Estado”, atestou.
Para ele, o evento foi bem propício, pois é do debate que saem as ideias e é possível que algum empresário local se anime a entrar na agricultura na região de Marabá. “Hoje nós temos três polos de agricultura no nosso Estado: Paragominas, Santarém e Santana do Araguaia. Marabá neste momento ainda não faz parte desse circuito, mas, eu acredito que em breve vai começar a ter plantio de soja e milho aqui, as terras de Marabá têm as mesmas aptidões da agricultura que temos em outras cidades”, previu Vanderlei Ataídes.
Desafio
Sobre mais um “Café com Negócios”, o presidente da ACIM, Ítalo Ipojucan Costa, afirma que a proposta da entidade, com esse tipo de evento, envolve desde o desafio doméstico de conceituar uma Associação Comercial com uma interatividade maior com seu associado, mas também, de entender os modelos que deram certo em outros rincões do País. “E que esses modelos possam servir para que a gente, aqui, demonstre para a classe empresarial que é possível inovar, é possível criar novas plataformas de negócios”, enfatiza.
“Agora, nós estamos trazendo a Aprosoja porque é um movimento real em que não existe “mais ou menos”. Esse movimento veio para se implantar e está consolidado”, afirma o presidente.
Ele observa que, ano após ano, os números do setor do plantio de soja são recordes e a classe empreendedora precisa estar antenada e enxergar, “dentro dessa nova fronteira, quais são as oportunidades de negócios que há para o mundo empreendedor avançar e, com isso, poder agregar maior valor à cadeia produtiva do agronegócio. Então esse é o desafio que está posto”.
Os números da soja no Brasil e no Pará
– Principal produto exportado, com participação em 48,8% no agronegócio, que representou aproximadamente de 48% de todas as exportações.
– R$ 96 bilhões de saldo comercial em 2017.
– Dos 560 mil hectares de área plantada no Pará, 89% estão destinados ao plantio de soja, 8%, de milho e 3%, de arroz.
– Expectativa de crescimento em 2019: 10% a 12%
Eugênio Alegretti: “A soja é um caminho sem volta”
Eugênio Alegretti Neto, primeiro-vice-presidente da ACIM, é um entusiasta da cultura da soja em Marabá. Ele afirma que o grão está em plena expansão no Estado. Diz que o Pará é “a bola da vez” porque reúne condições “espetaculares” para a produção de soja, “tendo em vista a proximidade do porto”.
“Além disso, nós temos toda a questão logística da soja do Mato Grosso que passa por esta região, indo para Barcarena. Mas, num futuro próximo, ficará em Marabá e será escoada pela hidrovia, possibilitando a verticalização com o surgimento de esmagadoras, fábricas de alimentos, fábricas de ração”, prevê.
Então, nesse contexto, ele afirma que é preciso preparar o empresário local e, quem sabe, adiantar o processo, incentivando pessoas a investirem nessa área: “Eu não tenho dúvida de que esse é um caminho sem volta. A soja tem uma cadeia produtiva muito grande. Envolve não só o agricultor, mas também o comércio, a produção de máquinas agrícolas, a indústria de caminhões, indústria de adubos, de fertilizantes, de biotecnologia”.
A soja já está acontecendo, a 150 km de Marabá, em qualquer direção há soja sendo plantada – afirma o vice-presidente da ACIM – observando que seja em direção à Estrada do Rio Preto, seja na PA-150, seja na BR-222 no sentido de Rondon do Pará, em qualquer destino há soja sendo plantada.
“E digo o seguinte: o ciclo da soja é o ciclo renovável, aquele ciclo com o qual a gente sempre sonhou. Nós passamos por vários ciclos extrativistas, mas o da agricultura é aquele que vai ficar, aquele que é renovável, que é passível de uma verticalização estando sempre renovável e em crescimento”, afirma, otimista.
Ítalo Ipojucan: “A classe política precisa acordar”
Na opinião de Ítalo Ipojucan Costa, presidente da Acim, é necessário que políticas públicas sejam implantadas sem demora em Marabá, sob pena de a cidade se tornar apenas um caminho da soja para o mercado externo. Esse, para ele, é o grande desafio: “O que a Associação Comercial e Industrial tem proposto, ao longo dos seus debates, é exatamente ter a condição de reinventar o modelo econômico da nossa região”.
“Nós falamos de diversificar a base produtiva em cima de vetores extremamente importantes. Um é a mineração, que nós estamos vendo aí que, por mais que lutemos, anúncios extremamente importantes acontecendo no Estado do Maranhão, com um investimento chinês muito forte na área portuária”, adverte ele.
Ítalo chama atenção para o anúncio da implantação de uma siderúrgica no Estado vizinho, um movimento que já vem acontecendo há dois anos, mas que, na última semana, tomou corpo.
Questionamento
“E de onde vai a matéria prima para o Maranhão?”, indaga ele, afirmando que esse, então, é o grande questionamento, o grande debate que a ACIM coloca na mesa. É necessário que os agentes de transformação – continua o presidente -, a classe política do Pará, “acorde desse sono profundo”, sob o risco de que, todos os modelos com potencial para implantação no município, “não se tornem realidade naquilo que diz respeito ao seu poder de agregação de riquezas, oferta de emprego e diversificação da renda para um mercado mais diverso, de movimento extremamente inclusivo”.
Ítalo lembra que, recentemente, ele e outros diretores da ACIM foram a Caruaru (PE) entender a lógica de um município que está no agreste pernambucano, uma região que não tem sequer água, mas que superou os desafios. “Eles estão 300 anos luz à frente de Marabá. É uma cidade extremamente avançada no quesito econômico”, avaliou.
Logística
Sobre o cultivo da soja, para o qual Marabá tem campo propício, Ítalo diz que o município tem outro elemento extremamente importante, a logística da região, como referencial competitivo para o setor. “Nós somos a alternativa de rota no mapa e temos de saber trabalhar isso”.
“Então, a classe politica tem o poder de transformar, mas não toma a iniciativa, precisa acordar para isso. Nós estamos presenciando um debate recorrente do Estado do Pará, com seu potencial de negócios, e, infelizmente, eles não são capturados”, alerta ele.
Esse movimento do Maranhão, afirma Ítalo, o preocupa porque “o debate é nosso”. “A matéria prima é produzida aqui. Nós, em passado recente, vimos a Ferrovia Carajás sair do Pará e ir para o Maranhão. Apesar de haver questões técnicas aliadas, havia um movimento político”, lembra ele.
Filme repetido
Ítalo teme que a região venha a assistir novamente “a nossa tão sonhada verticalização, uma forma de compensar esse Estado minerador, dentro das suas condições de trazer desenvolvimento, sair daqui sob forma de matéria prima e ir para o Estado vizinho”.
Ele alerta para fato de que a captura de negócios, a agregação de valores, de transferência de riquezas, de geração de emprego para a comunidade migre do Pará, que produz, para o Maranhão, que hoje é referência para desembarque.
“Então nos temos de entender isso e acordar a classe política. O Maranhão está errado? Não, está corretíssimo, está certo e o governo de lá está fazendo o papel dele, investindo em área portuária, atraindo os chineses para fazer os negócios”, admite.
O presidente da ACIM afirma que nós precisamos estar antenados com esse movimento e, dessa forma, tentar fazer com que as oportunidades aqui sejam capturadas: “A Aprosoja, neste momento, traz um tema extremamente recente. Temos locais como Paragominas e como Balsas (MA), que são referências de cidades em que o agronegócio chegou e onde novos modelos econômicos, novos modelos de negócios surgiram, enquanto oportunidade, e foram capturados”.
“Este é o objetivo, mostrar para a comunidade empresarial o que de novo pode surgir com essa fronteira do agronegócio e como cada um vai ter a capacidade de inovar dentro dos seus negócios e capturar essas oportunidades”, concluiu.
Por ASCOM/ ACIM.